quarta-feira, 18 de junho de 2008

Relatório do curso Antropologia, Identidades e movimento indígena.

Relatório do curso Antropologia, Identidades e Movimento Indígena.

Centro Amazônico de Formação Indígena

Prof. Dr. Gabriel O. Alvarez

O curso de Antropologia, identidades e movimento indígena foi um curso intensivo para um grupo de vinte alunos indígenas de diferentes povos da região norte do Brasil. O mesmo organizou-se a partir de um programa que enumerou os temas e a bibliografia de referência para o desenvolvimento dos temas. As aulas de 7h por dia eram ministradas combinando diversas estratégias como: aula expositiva, apresentação de vídeos e trabalho grupal.

A primeira aula abordou a Antropologia num sentido amplo e as diferentes tradições de Antropologia Sócio-cultural: A perspectiva francesa, com a ênfase nas categorias do espírito humano; a tradição americana de antropologia cultural e a tradição britânica de Antropologia Social. Se realizou uma abordagem comparativa com os aportes das diferentes escolas. A aula combinou momentos expositivos com tarefa grupal, mediante a elaboração de “papelografos” que discutiam o que era e para que podia servir a Antropologia.

Na segunda aula se discutiu o trabalho de campo do antropólogo, a observação participante, diários de campo, levantamento de genealogias. Durante a aula se exibiu parte do documentário de Roque Laraia contando seu primeiro trabalho de campo com os Surui do Pará. Como tarefa prática os alunos construíram genealogias para discutir o parentesco como forma de organização social nos diferentes grupos. Se discutiu também a abordagem antropológica sobre redes, brokers ou mediadores, desenvolvidos pela antropologia política.

Na terceira aula se abordo uma crítica ao conceito de aculturação a partir do tema das identidades indígenas e o conceito de “fricção interétnica”. Ao longo da aula se apresentou o vídeo de Roberto Cardoso de Oliveira que discute seu primeiro trabalho de campo com os Terena, assim como outros depoimentos acerca do movimento indígena e a situação atual dos povos indígenas comparado com a situação nas décadas de 1950/60. No final da aula se abordaram as diferencias entre a situação colonial nos seringais e nas terras indígenas, os processos de etnogênese assim como a comparação da situação dos povos e terras indígenas nas diferentes latitudes do Brasil. Se analisou também a origem da política indígenista Brasileira a partir da igreja e da estruturação do SPI/FUNAI.

Na quarta aula se abordou o tema das diversas tradições culturais e como se expressam por meio de rituais, mitos e símbolos. A partir do material Sateré-Mawé trabalhado pelo professor, se estimulou a comparação com a situação dos diversos grupos dos alunos. A abordagem dos símbolos rituais permitiu a discussão dos aspectos performáticos do símbolo, quando se fazem coisas com palavras ou rituais. Se discutiu a eficácia simbólica dos rituais. A discussão dos símbolos tradicionais no interior de uma tradição cultural permite também analisar a continuidade dessa tradição quando na atualidade são invocados novos símbolos políticos que tem um pano de fundo tradicional. Como material de analise se apresentou o vídeo 3 Interpretações dos cantos da Tucandeira, com a interpretação dos cantos do ritual Sateré-Mawé.

Na quinta aula se realizou uma abordagem comparativa entre o poder tradicional nas sociedades indígenas das Terras Baixas e o poder na tradição ocidental. O primeiro se caracterizaria como um poder não coercitivo, onde a sociedade se coloca acima do índivíduo. O segundo por contraste é um poder coercitivo e individualista. O tema permitiu também a discussão das novas lideranças indígenas, que poderiam se caracterizadas como lideranças não-tradicionais. Durante a aula se discutiu também a diferenciação entre lideranças não tradicionais de orientação política e lideranças não tradicionais de orientação econômica. Durante a aula se assistiu o vídeo Toiro, toiro, toiro... vamos juntos trabalhar”.

Na sexta e última aula, foi retomado o tema do movimento indígena, agora desde a perspectiva das lutas pela demarcação dos territórios indígenas e das lutas pelo reconhecimento de políticas diferenciadas de saúde, educação e seguridade social, que inclui assistência e previdência social. Se assinalou a importância do movimento indígena no processo de demarcação de terras indígenas no Brasil na década dos oitenta, a descentralização da política indígenista ao longo da década de 1990. As mudanças no movimento indígena com a participação das ONGs e o mercado de projetos. Crítica de Gersem: “o fracasso dos projetos pode significar o triunfo da tradição cultural”. Necessidade de formulação de projetos que levem em conta a tradição cultural dos grupos.

Como trabalho de avaliação da disciplina se solicitou aos alunos que realizassem um trabalho com a apresentação do seu grupo étnico, organização social tradicional, símbolos e rituais tradicionais. Uma descrição da organização indígena à que estão vinculados e a formulação de um projeto que leve em conta a tradição cultural do grupo.

As avaliações do curso realizadas pelos alunos foram positivas e refletiam a demanda por um curso mais longo e com uma discução mais profunda dos conteúdos. Apesar do pouco tempo de sala de aulas, se logrou cumprir com os objetivos do curso.

Prof. Dr. Gabriel O. Alvarez

Antropólogo

Nenhum comentário: